A revolta dos nerds e outros bichos pensantes: quem quiser nos ouvir, venha até nós, no nosso tempo e onde nós quisermos

Existe um grupo seleto de estudiosos, aqui e no mundo, que, com muito esforço, produziu e propôs modelos novos de reflexão sobre algum tema na área do treinamento, nutrição esportiva, entre outros temas ligados à atividade física e exercício. A maioria de nós não está nas universidades públicas por um motivo simples: os que ficaram lá, foram distanciados da prática. Trabalham em um regime RDIDP (regime de dedicação integral à docência e à pesquisa). São pressionados a publicar em uma determinada freqüência em periódicos onde o rigor metodológico impede que os temas mais solicitados no campo prático sequer sejam possíveis.

Este grupo de nós veio sendo usado de maneira muito lucrativa por universidades privadas, empresas “pseudo-patrocinadoras” e outras instituições organizadoras de eventos. Nos pagam de R$60-R$150,00/hora aula e é isso.

Muitos de nós nos sujeitamos a isso por anos. Fomos a workshops e feiras, demos nossas palestras, que juntam centenas de pessoas, para falar sempre a mesma coisa, o que obviamente nos frustra e entristece, e animamos os circos da mediocridade intelectual.

Cada vez que tentamos propor um um tema inovador, o rolo compressor dos cursos com títulos valorizados por um mercado de trabalho mediocrizante até os limites da vergonha nos sabotam. Num programa de 120 palestras com títulos como “Pilates interativo para gestantes” e “treinamento funcional progressivo” (parece nova tecnologia de alisamento de cabelo), quem vai assistir a sua palestra sobre “a falácia da interpretação dos parâmetros clínicos dos praticantes de exercícios de força”? Ou “treinamento com objetos instáveis e transferabilidade neural”? Ninguém, porque a Brunner prefere o recém-formado na Uni-esquina que tenha feito o curso de “Tlsdkjfad ldkfajd FUNCIONAL lkdaj CORE”.

O ano passado, ao voltar de Sorocaba após um curso que ofereci na FEFISO, com toda a burocracia das notas e mil impostos diferentes, os quais eu nem consigo entender direito, eu fiz as contas e conclui que estava sendo menos remunerada do que a minha faxineira. Sem desmerecer o trabalho desta pessoa de quem gosto muitíssimo e de quem dependo para meu bem estar, eu estudei 25 anos para conquistar a reputação que tenho hoje como professora.

Treino e me alimento de maneira disciplinada a um nível que para não atletas parece inconcebível (para mim é totalmente normal). E além disso, criei sistemas de treinamento que de um jeito ou de outro, me tornaram não apenas campeã mundial em categoria absoluta, como recordista mundial histórica na minha modalidade.

Tudo isso junto significa que eu sei do que estou falando tanto em termos teóricos como práticos. E mais: eu e estes meus colegas com vidas bem parecidas com a minha fomos incrivelmente ousados, inovadores e corremos riscos grandes para conquistar estas posições.

Viramos um produto valorizado.

Só que a economia de mercado brasileira é tosca e primitiva. O cliente primário e secundário são educados a ter um comportamento parasitário e vampiresco.

Claro que eles sabem que somos únicos e nosso serviço tem um valor, obviamente, muito alto (lógica do mercado). Mas, como todo mundo convencionou que dá para retirar o máximo de mais valia de qualquer um que venda sua força de trabalho, aplicaram a mesma lógica a nós.

Surpresa! Não estamos vendendo FORÇA DE TRABALHO! Estamos vendendo SERVIÇO!

Surpresa numero dois: podemos vender para quem quisermos e quem estabelece o preço é o mercado, do qual nós NÃO somos mais agentes passivos! Basta a gente não vender mais pelo precinho camarada de antes que, em um ano, a ficha dos clientes primários (organizadores de eventos e cursos) e secundários (alunos e participantes) vai cair!

Todos os dias eu recebo as seguintes perguntas (fora outras não mencionáveis):

“Quando você vem aqui (em Curitiba, Rio de Janeiro, Belém, etc.) dar este curso?”

“Queremos organizar um curso aqui com você, quanto você cobra?”

“Perdemos o último “módulo” (não era módulo, era um seminário), quando você vai repassar?” (porque, claro, a lógica anterior é que a cada dois meses a gente fala do mesmo assunto novamente para alguém)

E tenho respondido publicamente, repetido, alertado, que a moleza acabou. Que eu cansei de enriquecer organizadores de eventos com o fruto de 25 anos do meu trabalho original. Que eu conquistei, com muito sofrimento e riscos que ninguém topou assumir, o direito de falar o que EU quiser, quando e onde EU quiser.

Assim sendo, eu montei o meu programa de seminários, que é às 4as feiras, no Espaço Funcional da Monica, perto da minha casa. Também montei meu curso de Levantamentos de Peso com o Joel, na Crossfit. Estou montando meu programa de cursos virtuais.

Por que 4ª feira? Porque eu quero! É um dia bom para MIM, e eu sou a única pessoa que importa porque quem vai falar sou eu, certo?

Por que na Monica? Porque ela é minha amiga, o espaço me é hospitaleiro e é no caminho da minha casa! Fácil de entender!

Por que estes temas? Porque eu escrevi durante anos sobre eles, sei que são as lacunas de conhecimento, centenas de pessoas me procuram para obter esse conhecimento e precisam dele. O mercado de trabalho (leia-se, as Brunners da vida) não valorizam isso no seu currículo? Ahh… dura escolha. Eu também fiz uma pesquisa sobre isso e sei que o profissional sabe que o mercado valoriza cursos de extensão inúteis, mas o profissional sabe do que precisa.

Por que levantamentos de peso? Porque é o que eu mais gosto e sei ensinar! Porque TODO MUNDO precisa saber levantamento de peso, é simples!

Por que com o Joel? Porque a gente trabalha bem junto e – estou pouco me lixando para a hipocrisia da modéstia – nós somos os melhores!

Está declarada a minha liberdade – e a sua também. Você, aluno, leitor, participante, terá a liberdade de ouvir diretamente de quem lhe interessa ouvir, sem precisar de intermediários na compra deste alimento intelectual. Acho que você não precisa suar muito para perceber que sai mais barato para você, eu ganho mais e os monstros corporativos conhecidos como Uni-Esquina são os únicos que saem perdendo.

Para os pseudo-patrocinadores, sorry: vocês ficam com a “bola da vez”. O atleta mais articuladinho que ganhou algum espaço de mídia e pode entreter o seu circo. Eu cobro bem mais caro, mesmo.

Eu fico com o segmento profissional que realmente está interessado em conteúdo crítico.

Não tenham dúvida de que isso é um cabo de guerra. Por um tempo, meu público não vai entender e vai esperar eu aparecer nos cursos tradicionais. Os seminários terão pouca gente. Não tem importância: eu tenho todo o tempo do mundo. É um projeto de longo prazo e, garanto a vocês, eu nunca falhei em projetos de longo prazo.

Passou da hora do profissional consumidor de informação, das organizações e empresas e do sistema educacional entenderem que o saber e a informação tem preço, que seus produtores e reprodutores têm valor variável conforme a qualidade e o sistema de mérito requer remuneração de acordo. Passou da hora e cansamos de enriquecer terceiros com o que foi o produto do nosso pioneirismo.

O recado está dado. Para vocês, alunos, que não vão me ouvir em lugar nenhum exceto nos meus cursos e seminários, cuja periodicidade é bem diferente do fast food educacional com o qual vocês se acostumaram. Para vocês, organizadores de evento, que acham que o nosso preço é caro. Claro que é: você não é instituição de caridade nem meu filho. Não sou obrigada a lhe dar dinheiro.

Ok?

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