Esportes de força: politicamente incorretos? (tradução do de baixo)

Esporte é uma prática que diz mais respeito a alta performance do que ao condicionamento físico e saúde. Mesmo assim, alguns esportes são mais frequentemente associados a uma ou outra ponta do espectro. Assim, alguns esportes são, no imaginário público, mais “saudáveis” do que outros. Os esportes “saudáveis” proporcionam o paradigma para a atividade física como fundamento do “estilo de vida saudável”. Tais esportes são predominantemente relacionados com atividade física aeróbica: corrida, natação, ciclismo, volei, etc. Na outra ponta do espectro estão os esportes de força como levantamento de peso e fisiculturismo. Mais ainda do que os chamados “esportes radicais”, os esportes de força são associados a comportamentos ariscados e irresponsáveis, bem como a práticas, nutrição e atitudes mentais pouco saudáveis. Numa época em que a promoção de um estilo de vida saudável, baseado em atividade física e nutrição “saudáveis”, se tornou a prioridade para órgãos inter-governamentais como a Organização Mundial de Saúde, os esportes de força se tornaram não apenas marginais, mas politicamente incorretos. A estigmatização dos esportes de força vai do esporte profissional às práticas amadoras e recreacionais em academias. Alta performance em força ou desenvolvimento muscular é caracterizada como não-natural e não-saudável, enquanto alta performance em velocidade de corrida ou nado representam a expressão positiva da quebra dos limites da realização humana. Corrida, ciclismo ou natação nas ruas ou academias é considerado saudável e racional, enquanto treinamento de força é considerado narcisista e perigoso. Os estereótipos corporais refletem as mesmas polaridades: corpos fortes são associados à violência, pouca capacidade intelectual, baixos níveis educacionais e culturais, enquanto corpos magros pertencem a indivíduos muito mais bem sucedidos e socialmente integrados. Se esta estigmatização deriva de forças sociais que restringem os esportes de força (e o exercício da força) aos estratos socio-culturais mais baixos, ou se a relação causal é inversa, não é claro. Historicamente, o exercício da força foi associado ao trabalho braçal, portanto, aos segmentos da sociedade que realizam trabalho. As classes dominantes foram em grande parte poupadas da atividade física de maneira geral. A construção do ideal do “estilo de vida saudável” só recentemente incorporou a prática diária de atividade física. Isso foi efetivado principalmente através do discurso dos cardiologistas, a especialidade dominante na profissão médica. Quanto a isso, a força, como componente do condicionamento físico, não tem o mesmo status que a resistência cardio-respiratória ou que a flexibilidade na manutenção da saúde e bem-estar. Enquanto os esportes associados com a atvidade aeróbica são cada vez mais praticados pelas classes média e alta, os esportes de força permanecem sendo uma escolha dos segmentos menos privilegiados.

Marilia


BodyStuff

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