Médicos gostam de atletas

Bem, continuo lesionada. Minha lesão é em um dos dois psoas. Como eu sei? Porque não apenas não melhorou com o meu super-mega-tratamento nas coxas, como piorou. Essa piora não é muito inocente: achei que “tudo bem” eu mostrar alguns exercícios para minha amiga (para quem estou dando personal) ontem. Com muita codeína na cabeça, até mostrei e aí… hoje não conseguia nem levantar direito da cama. Fui para a casa dos meus pais e meu pai me levou ao Hospital São Luis (sim! Mesmo lugar onde me atenderam com a lesão abdominal causada pela mesma atitude idiota!).

Fui muito bem atendida e o médico identificou rapidamente que não era nada com a coluna, nada com rins, nenhuma ruptura muscular e sim, como eu já suspeitava, uma contratura. O músculo afetado é o psoas (não sei qual dos dois, estes são os dois, major e minor).

 psoas majorspoas minor

 

Como eu expliquei em algum lugar, estou tentando treinar seriamente meus levantamentos. Quarta-feira foi um dia de Terra (deadlift http://www.bodybuilding.com/fun/exerprint.php?Real_New=%3C%3D+7&Name=Barbell+Deadlift&MainMuscle=&Isolation=&Equip=&order=Name). Fiquei muito triste nas duas semanas em que perdi peso e força por conta de complicações na vida, de modo que quando me vi capaz de levantar cargas maiores, me animei. Pelo que parece, me animei demais. Nas últimas repetições da última série, senti que exagerei na carga e, portanto, pequei na técnica. Horas mais tarde, senti a dor tardia na lombar, o que não quer dizer nada ou quer dizer muito. Claro que confundi a dor tardia com uma dor de lesão que deveria ter sido respeitada. E, sexta-feira, quando fui correr e senti a dor lombar apertar nos primeiros cinco minutos, deveria ter prestado atenção e parado.

Contei toda essa história para o médico. Já é o terceiro médico que pego no São Luis que conhece alguma coisa de treinamento de força. O primeiro, coitado, que me atendeu subindo parede com abstinência de treino no dia de Natal de 2005, chegou a me perguntar detalhes sobre minhas cargas nos levantamentos para me recomendar NÃO utilizá-las, e sim uma fração delas.

O médico de hoje me tratou como uma menininha sapeca de uns 5 anos. Havia um misto de carinho, condescendência com a peraltisse da menina e uma certa admiração que os adultos têm pelas crianças agitadas e simpáticas.

O que concluo disso? Não sei muito bem… Para começar, se médicos são gente e se todos temos algo em comum, talvez partilhemos da mesma percepção de que gente chata e reclamona é um pé no saco. Atletas não são – são o oposto. Em geral vão parar nas mãos deles, médicos, precisamente por ignorar a dor e resistir a dores e frustrações. Claro que é idiota ignorar certas dores. Mas não deixa de ser mais ou menos, de certo ponto de vista, admirável. Diante da dor e da lesão, atletas não têm pena de si mesmos: têm raiva e frustração. É mais fácil simpatizar com esses sentimentos do que com auto-comiseração, que gera certa antipatia.

Como já fui parar nas mãos de médicos de emergência hospitalar em condições muito diferentes, com lesões auto-inflingidas e tentativa de suicídio, sei bem como é a diferença. Enquanto essas lesões que acontecem no contexto de uma doença mental causam repugnância e medo, dificilmente gerando qualquer reação empática por parte de quem quer que seja, as lesões esportivas geram simpatia. São os “perdedores” versus “vencedores”.

No fim, sempre há um julgamento moral. Perdedores são perdedores porque merecem, receberam seu quinhão. E vencedores o são por serem bons.

É bom ser vencedor – todo mundo gosta da gente.

É horrível ser perdedor…

 

Marilia

 

Bodystuff

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