O esquizofrênico e o laboratório clínico

Ontem fui fazer exames de sangue, em jejum. Depois que tive uma hepatite de origem medicamentosa em 2002 (acho) que me levou a fazer 64 exames no laboratório Delboni, ganhei um tipo de VIP dos hipocondríacos chamado de “Club DA”. Acho que dão para quem realmente usa demais o laboratório e aí tem algumas mordomias: o vip é atendido numa sala separada, o lugar é mais tranqüilo, tem uma cafeteria bacana, uns lanches bem cuidados, televisão, revista e até computadores com Internet.

Gente que chega de manhã para fazer exame não está no seu melhor. Dependendo do tempo de jejum e da condição que levou a pessoa a solicitar os exames, o nível de stress e mau-humor é alto. As pobres atendentes precisam dar conta de comportamentos intoleráveis e hostis. Gente com fome e hipoglicêmica, aliás, freqüentemente muda de comportamento, fica irracional e até perigosa.

Eu até que me agüento razoavelmente bem e admito que o ambiente do Club DA ajuda.

Enquanto eu fazia minha ficha, chegaram dois homens e cumprimentaram a atendente. Ela cumprimentou de volta e imediatamente assumiu uma postura ressabiada. Então me revelou que se tratava de um paciente esquizofrênico e seu acompanhante. Disse que ele sempre aparecia e causava muitos transtornos. Exames, mesmo, ele fazia poucos. Só que por ter ganhado acesso ao Club DA, encanou com o lugar. Usa o espaço como lan house, lanchonete e sala de estar. Aparece, usa os computadores, toma lanche, e já fez reclamações por escrito das funcionárias.

Achei a situação completamente inusitada: estranha partilha de uma sala de espera de exames laboratoriais incrementada. Pacientes tensos, com fome, com medo, com raiva e um esquizofrênico cuja representação daquele espaço jamais vou saber qual é. Mas não é a mesma dos outros. O conforto que o Delboni ofereceu aos pacientes que precisam estar ali por obrigação, e não por vontade, supriu algum tipo de necessidade nele que não vamos entender.

Ele veio, tentou usar a Internet, mas a rede tinha caído. Tomou um lanche e foi embora.

Alívio na sala.

 

Marilia

 

BodyStuff

 

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