O mito do exagero

Hoje é uma rapidinha.
Segunda-feira passei a tarde no hospital fazendo exames. Foi depois de uma proposta que fiz ao Stevie, assim:
– Stevie, aquela dorzinha de lado na barriga não passou… O que você acha de eu ir treinar agora agachamento, bem punk mesmo, aí se for pra estourar alguma porcaria explode de vez e aí eu vou pro hospital?
Não vou contar o que ele respondeu, mas em 15 minutos eu estava, submissa e conformada, a caminho do hospital para verificar a possibilidade de uma apendicite.
Cheguei lá e o médico me examinou:
– dói aqui?
– não.
– aqui?
– não.
– aqui?
– AHHHH!!!!!!
– então você precisa passar no ortopedista, deve ser uma lesão muscular.
No ortopedista:
– dói aqui?
– não.
– aqui?
– não.
– aqui?
– AHHHH!!!!!!
– então precisamos de um ultra-som para verificar a possibilidade de uma hérnia.
No ultra-sonografista:
– dói aqui?…
Não vou repetir: foi igual. Não, não tenho hérnia nem apendicite. Parece que é uma contratura, mas garanto que dói muito. Depois de ser apertada e virada do avesso por vários médicos, ganhar uma injeção de anti-inflamatório com relaxante muscular, fui despachada para casa com uma receita para esses dois medicamentos, para usar por uma semana.
Ficar sem treino, impossível, de modo que fui hoje fazer uma dublagem qualquer só para meu cérebro registrar que algo ocorreu – treino leve, sem usar abdomen para estabilizar nada.
O ralaxante muscular relaxa TUDO, inclusive os músculos faciais e a língua. De modo que pareço estar completamente chapada e doida, mais do que já sou. Quando expliquei que era por causa do medicamento, tomado por causa da lesão, a reação da maioria foi dizer que eu EXGERO. Que excesso de treino dá nisso.

E é aqui que eu queria chegar: em primeiro lugar, é bem possível que essa lesão seja um pequeno sintoma de overtraining, mas foi causada por um erro meu. Treinei pesado agachamento de manhã, esqueci que tinha feito isso e de noite dei uma “corridinha” na subida porque o stress da semana e do dia de trabalho tinham me deixado um pouco tensa. Mas como já disse antes aqui, overtraining não é causado por excesso de treino, mas por um desequilíbrio entre o estímulo e a recuperação. Esse desequilíbrio pode ser causado (e em geral é) por fatores externos.
Todo mundo – absolutamente todo mundo para quem eu relatei o caso e mostrei o registro de e-mails – considerou seríssima a rasteira que eu tomei da Bireme, digna de todo tipo de reação por stress. E todos se surpreenderam pela maneira com que administrei e estou administrando a coisa friamente.
Por que agora essa implicância com meu treino? Ter uma lesão foi uma consequência até pequena, considerando o tamanho do impacto que a coisa teve.

O pior não é isso, o pior é que, mesmo na melhor das intenções, as pessoas criam um contexto “ad hoc” para minha lesão: “é isso, você exagera, eu vejo como você treina, você está enorme, só podia dar nisso.” Eu NUNCA fico resfriada, gripada, nada. NUNCA tenho as lesões que todo mundo tem nas corridinhas de fim-de-semana e nas aulinhas de body-fuck-me-forever. Apareço com UMA lesão e pronto: é isso, puxar ferro é isso que dá.

É ou não é preconceito?

Marilia


BodyStuff

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