O saudável não-pertencimento: a volta à Runner

 

Voltei à Runner. Voltei à unidade que tem aqui perto de casa, a Club. Essa volta é um patrocínio da Runner a mim, como atleta.

Quando eu saí dali, há cerca de dois anos, logo me tornei atleta, treinando em academias mais hard-core. Não tinha guardado muita saudade do lugar. Naquele momento da saída, eu não era nem a atleta de alta performance que sou hoje, nem uma aluna comum, nem nada. Aliás, eu não era nada: não tinha CREF (que hoje tenho e honro), não tinha reputação na área – era só alguém que gostava muito de treino e se dedicava. Meu corpo começava a ficar diferente, mais musculoso, eu fazia meus próprios treinos em malucos experimentos metodológicos, mas estava longe de ter segurança na área.

Hoje eu volto à Runner não como aluna, não como funcionária, não como professora – nada disso. Sou uma atleta patrocinada. Tenho sido tratada com um carinho comovente por todos os professores, até aqueles que não me conheciam. O que eu temia acontecer quanto aos alunos, um certo estranhamento tanto pelo tipo de treino, como pelo tipo de corpo que eu tenho, me surpreendeu às avessas: tanto os iniciantes como os avançados me tratam com uma simpatia diferenciada. Os marombeiros sérios, por motivos óbvios: está escrito na minha testa que sou atleta e conheço o que faço. Temos assuntos técnicos em comum. Jamais me nego a responder perguntas técnicas, mas tomo todo o cuidado para não interferir nas orientações dos professores.

Fiquei feliz em ver rapazes que há dois anos eram garotos confusos, sem saber muito o que fazer com sua paixão pelo treinamento, hoje empenhados em estudar Educação Física e Nutrição.

Eu não tenho corpo e nem me visto como uma gostosinha de academia, uso shorts porque são a melhor vestimenta para agachar, meus tênis são estritamente funcionais (quando vou agachar ou me estabilizar de alguma forma, só allstar ou tênis de futebol de salão, sem amortecimento – quando vou correr, um mizuno nojentamente sujo de lama, pois corro na rua). Talvez isso sinalize, além da forma do meu corpo, objetivos e limites. Apesar da simpatia e afeto, sou tratada com todo o respeito, a despeito do shortinho curto e tudo mais.

Apenas dois recreativos inexperientes vieram tentar falar comigo sobre esteróides, e eu desconversei educadamente. “Mas você toma, claro!”, disseram. “Tomo: água. Muita água. Água é altamente anabólico”, foi minha resposta. E é mesmo. Além de ser, essa é uma decisão consciente: além de água, não prescrevo rigorosamente nada ali. Nem dieta, nem treino e muito menos suplemento. Sobre esse assunto, minha resposta é dizer “minha opinião é que você deve consultar um bom nutricionista esportivo”. E ponto.

Durante esses dias, nem tenho treinado na Nautilus, pois até o fim de janeiro não faço os levantamentos – só treino auxiliar. E me dei conta de que a Runner está sendo bem mais do que apenas um lugar para tais treinos: lá tenho relaxado tensões fortes desse final de ano e me sentido bem.

Foi bom voltar.

Algumas voltas são boas.

 

Marilia

 

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