Suicídio 2: Beringelas não se matam

Antes de contar no que consiste o processo de monitoramento no plano individual, como prometido no post anterior, quero contar sobre as coisas que NÃO dão certo do ponto de vista de qualquer coisa que se possa entender como qualidade de vida, mas impedem o suicídio. Isso coloca um dilema ético perante todos nós: até que ponto é justificável ir para impedir uma morte por doença, seja ela auto-inflingida ou não? Como se mede a relação entre custo e benefício quando o custo é a própria vida e o benefício sua qualidade?

Trata-se aqui do emprego de neurolépticos para o controle de desordens de humor, amplamente praticado pela empurroterapia da grande indústria farmacêutica e psiquiatria mundial.

Os medicamentos para o controle de desordens de humor, que são as mais fortemente associadas aos óbitos por suicídio, são:
1. anti-depressivos
2. estabilizadores de humor
3. ansiolíticos
4. neurolépticos

(recomendo fortemente o seguinte link sobre o assunto: http://www.psycom.net/depression.central.drugs.html )

Anti-depressivos são amplamente utilizados quando o diagnóstico é depressão, embora outras drogas sejam também empregadas. No caso de desordem bi-polar, o carnaval farmacológico vai longe: chega-se a fazer prescrições de mais de seis diferentes medicamentos, em dosagens variadas, de forma que o paciente passa o dia se drogando. Numa ocasião, cheguei a tomar 6 drogas diferentes, em variadas combinações, ao longo de 7 horários. Como eu participava do maior grupo internacional online de pacientes bipolares, a lista de discussão “pendulum”, não estranhava, já que a maioria dos portadores era medicada como eu.

Quase todos os medicamentos psicotrópicos causam um ou todos os seguintes efeitos colaterais:
– decréscimo ou perda da libido;
– aumento de peso (de causas controvertidas);
– redução do nível geral de “alertness” e vitalidade;
– perdas cognitivas;
– perdas em acuidade e controle motor;
– apatia;

A indústria farmacêutica encobre o real impacto destes efeitos colaterais através de pesquisas financiadas (“propina” aos médicos e cientistas), mas uma boa pesquisa do PubMed revela o que realmente ocorre. Uma pesquisa melhor ainda nos depoimentos dos pacientes revela MUITO mais, já que todo paciente “enturmado” sabe que os únicos medicamentos que não tornam você uma bolha assassina são lamotrigina e topiramato, sendo que este último não engorda, mas o transforma num retardado inútil.

Há alguns anos, o laboratório Lilly lançou no mercado a olanzepina, sob o nome comerzial de ZYPREXA. Esta é definitivamente a droga do inferno.

Meu diagnóstico foi quase sempre o de desordem bi-polar, mas pairavam algumas dúvidas por causa de sintomas difíceis de interpretar. Uma única vez, dos mais de 20 psiquiatras que me diagnosticaram, um deles disse acreditar que eu era portadora de Borderline Personality Disorder. Não vou revelar o nome do infeliz porque é amigo de um amigo meu, mas os outros médicos que souberam desse diagnóstico ficaram indignados. BPD é o equivalente, em linguagem psiquiátrica, de “grande filho da puta mau-caráter”. Quando o psiquiatra não vai com a sua cara, você vira um BPD. Esse psiquiatra, que é conhecido por ser um bom neurologista e completamente incompetente na psiquiatria, não foi nada, nada com a minha cara. E eu virei uma BPD. Ele me prescreveu Zyprexa.

Zyprexa é um neuroléptico que a Lilly forçou goela abaixo dos pacientes bipolares através de uma efeciente campanha de enfiar dólares nos bolsos dos psiquiatras: funcionou. No primeiro dia já se sente a apatia se instalando. Como todo neuroléptico, Zyprexa inibe TUDO, não apenas seus sintomas fora de controle. A sensação é como se você fosse instantaneamente esvaziado de você mesmo. Não se tem energia para rigorosamente nada. Sabendo que eram sintomas da droga, me forcei a praticar atividade física todos os dias e mantive a dieta restrita, pois li a respeito dos enormes ganhos de peso causados pela droga. Mesmo assim, ganhei 3 quilos em duas semanas de uso.

Não me mutilei nenhuma vez, mas, pela primeira vez na doença, o desejo de não estar viva (não o desejo de me matar) se tornou uma idéia obsessiva e permanente. Eu não tinha outro pensamento se não o de parar de viver. No entanto, não conseguia ter iniciativa para praticar nenhum ato agressivo contra mim mesma. A imagem que mais ficou desse estranho e horrível período foi de mim mesma correndo na esteira da academia, pensando o que aconteceria se eu acelerasse minha frequência cardíaca sem respeitar nenhum limite subjetivo. Devaneava com a patética possibilidade de me matar por parada cardíaca por esforço de corrida, contra todo meu conhecimento de fisiologia do exercício.

Essa foi uma das poucas drogas que não consegui insistir em usar. Todas as outras mereceram de mim, infelizmente, um crédito, até que, depois de 4, 6, 10 meses sem nenhum efeito, sofrendo e me agredindo, ela era trocada por outra coisa inútil…

Foi assim, por anos, até 2004.

Marilia


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