Um louvor à objetividade de propósitos – ou por que é desnecessário trair e destruir as pessoas para fazer bons negócios

Essa semana, discuti um item de nossa parceria com uma dupla de amigos e parceiros. Amigos que são parceiros, leia bem. Foi simples: eu os chamei e disse que o formato daquela empreitada “x” não satisfazia os meus interesses comerciais plenamente. Se fosse possível alterá-la sem ferir os interesses da empresa deles, tudo bem. Caso contrário, seria melhor encerrar a empreitada colaborativa. Eles refletiram e consideraram que o formato original era melhor para eles.

Continuamos não apenas amigos, mas certamente parceiros em outras empreitadas. Tudo certo, tudo discutido dentro dos princípios da ética, da civilidade, do respeito e, ao lado de tudo isso, da amizade.

Isso aconteceu três semanas depois de um dos episódios mais violentos da minha curta história na organização esportiva, onde a vítima (ou animal de sacrifício?) fui eu e entre os protagonistas estavam algumas das pessoas que eu considerava não apenas amigos, mas “irmãos em armas” em algum tipo de guerra santa imaginária. Totalmente imaginária, ficcional e produto da minha mente cheia de culpa e sentido de dever.

Bem, confesso que até agora, e provavelmente por uns anos, vou ficar tentando digerir como foi possível que pessoas de convívio íntimo meu, como diferente dos amigos lá de cima, cometessem atos de traição e agressão que só podem ser interpretados num contexto que envolve destruição e até mesmo ódio. Claro que me refiro às coisas do esporte – no meu caso, os esportes de força.

Não vejo por que este último episódio que culminou na agressão do RS não podia ter sido feito no seguinte formato simples: um deles (não importa de que país) me abordar e dizer, sem drama, que a intenção original, missionária, altruísta e emocional gerou uma idéia de business para eles – negócio mesmo. E que a proposta seria a seguinte: organizamos um evento com o formato assim e assado, eu ganho tanto, fulano ganha tanto e você ganha tanto. Para isso, é necessário direcionar os clientes/atletas para esta ou aquela forma de interagir.

Eu diria com toda a educação que não me interessaria. É algo que não me atrai, nunca fui boa organizadora, me causa stress e a grana não vale tudo isso. Isso, amigos, para não dizer que nesse formato, muitos itens ferem minha ética: no Brasil e no resto da America do Sul, ao contrário dos Estados Unidos, o modelo de gestão e governança desportiva no esporte amador NÃO envolve empresas, e sim federações, que são associações SEM FINS LUCRATIVOS.  De modo que “ganhar dinheiro” por estas bandas no esquema das federações sempre envolve alguma ilegalidade.

No entanto, falado com educação, eu nem teria que trazer à tona este tema constrangedor.

Nos Estados Unidos, as principais federações são empresas. Não há necessidade de fazer nenhum discursinho missionário para congregar atletas e ninguém precisa apelar para o espírito olímpico. O organizador está ali para oferecer um SERVIÇO. Eu, como atleta, sou o CLIENTE. Se ele cobrar uma taxa de hospedagem superior àquela que o hotel oferece regularmente, é simples: o ano que vem eu procuro um dos concorrentes dele que ofereça um serviço mais transparente e de melhor custo-benefício a mim.

Esse é o modelo esporte-negócio. O dirigente não manda nem desmanda: ele é um prestador de serviço e ponto final.

Eu NÃO tenho interesse em ser esse prestador de serviço. Eu presto serviço em informação, ensino, comunicação e treinamento – tenho décadas de investimento nisso, gosto disso e sou muito boa no que faço. Em organizar coisas, nem sequer medíocre eu chego a ser. Sou ruim mesmo. Exige habilidades humanas e gosto pela coisa que eu não tenho.

Se aquele papo direto tivesse ocorrido, eu teria essa gente como amiga até hoje. Muitos são também atletas. Nos Estados Unidos, há organizadores bons que conseguem conjuminar as áreas da vida. Mas quando estamos nos inscrevendo num evento do sujeito, estamos pouco nos lixando para os quilos do seu supino. Ele é um prestador de serviço e o que eu quero ver é se o tablado está em ordem, as regras são obedecidas e a coisa corre sem transtorno (e em paz). Acima de tudo, quero saber o quão bem reconhecidas minhas marcas serão (e não “esquecidas” depois de entregue o maldito troféu para o qual eu não dou nenhuma bola).

Agora, fico eu aqui me perguntando, por que foi necessário esse planejamento maquiavélico todo?* Por que o jogo da destruição e do ódio para me tirar de uma jogada onde eu nunca quis estar? Por que gastar tempo em me destruir, mobilizar seus seguidores a me enviar mensagens de ódio do mesmo IP (mesmo computador), praticar ameaças a mim e aos que me cercam? Para que tudo isso se um simples papo com a nova proposta bastaria para que eu caísse fora com um sorriso, sem reclamar?

E agora, fico eu gastando muito do meu tempo, lembrando de tudo como foi antes e me perguntando: foi tudo mentira? Os abraços, o choro nos levantamentos, os gritos de torcida? Nunca houve afeto ou amizade? Nunca houve tesão pela coisa, entusiasmo real, nada? Nunca houve camaradagem, senso de irmandade e pertencimento? Ou tudo mudou no meio do caminho e eu fui incapaz de perceber? Olho as fotos, lindas, e não sei o que pensar. Principalmente, não sei o que sentir.

Quem são eles, afinal? Lá no fundo? O que sentem? O que os move, além da óbvia ganância?

Só me resta a oração da serenidade, pois não há resposta para nada disso – “isso” sendo, na verdade, algo que se repete igual há anos na vida de tanta gente. Dezenas de “marilias” passaram pela mesmíssima experiência e pularam fora. Eu fui só a última. Dezenas de pessoas sensacionais me ligam e me escrevem me dando os parabéns por ter conseguido me desligar de tudo e, principalmente, do senso de missão (quem em nós era genuíno) que nunca partilhamos com os que ficaram lá…

* recebi e-mails esses dias, juntando tudo uns 10, com evidências de que todo o “imbróglio” do RS foi friamente planejado para os objetivos alcançados: me excluir (para evitar que eu atrapalhasse) de uma negociata internacional (na qual a chance de eu me interessar era igual a ZERO, e eles sabiam). Antes disso, planos estapafúrdios de me “apanhar” numa armadilha de anti-doping armada, com papelzinho no meio do dedo do responsável pelo sorteio, vieram parar nos meus ouvidos. Para que tudo isso, meu deus? É tão mais simples!!!

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