Whey e o meu resfriado

Estou com um resfriado muito chato, naquela fase nojenta de dor de cabeça, mal-estar e nariz escorrendo. Meu humor está péssimo e preciso achar um culpado. Achei: a falta do whey. Foi isso: fui para a praia, resolvi usar “fontes alternativas” de proteína e não tomei minhas 3 a 5 doses diárias de whey. Dane-se que este é provavelmente um dos períodos mais estressantes e cheios de frustrações variadas que vivi – foi o whey. Só não gripava antes no meio do lamaçal todo porque tinha… whey.

Sim, pois whey é um suplemento cada vez mais celebrado por suas propriedades terapêuticas. O whey é na verdade um sub-produto do processamento do leite, particularmente do soro do leite. A proteína do leite é composta de aproximadamente 80% de caseínas e 20% de proteínas do whey, que compreende uma variedade de polipeptídeos, incluindo a lactalbumina bovina, a ferritina e outras. Os usos têm sido os mais variados, incluindo fórmulas para crianças, alimentação parenteral, suplementos esportivos, para controle de peso e até controle de estados de humor (Yalcin 2006). Outras aplicações terapêuticas incluem tratamentos para câncer, prevenção de câncer, anti-hipertensivo, hipolipidêmico, bactericida e quelante (Marshall 2004).

O mais interessante, no entento, têm sido as aplicações do whey relativas às suas propriedades imuno-estimulantes e anti-cancerígenas. Já em 1988 foi identificado que a suplementação com whey pode significativamente inibir a incidência de cânceres de cólon quimicamente provocados em modelos animais (Bounous 1988). O mesmo grupo de pesquisa identificou um efeito estimulador da resposta imunológica celular em animais alimentados com whey, comparados a grupos alimentados com caseína, proteína de soja, de trigo e outras (Bonous et al 1988).

Especula-se que essa propriedade se deva ao efeito que a suplementação de whey tem de aumentar os níveis de glutationa de diversos tecidos (Bounous et al 1989). As proteínas do whey, especialmente em sua forma não-desnaturada (Bounous & Gold 1991), são bons fornecedores de cisteína, componente da glutationa. A glutationa é um tri-peptídeo que desempenha papéis biológicos chave em processos de detoxificação e também de resposta imunológica. Os estudos do grupo de Bounous (1989) demontraram, além disso, uma correlação entre os níveis aumentados de glutationa cardíaca e hepática induzida pela suplementação com whey e a longevidade aumentada dos animais de laboratório. A melhoria na resposta imunológica e qualidade de vida de pacientes HIV positivos tratados com whey também parece estar relacionada com aumentos dos níveis de glutationa sérica (Micke et al 2001, 2002). Uma pesquisa de Kennedy et al de 1995 mostrou que a suplementação com whey em pacientes com câncer de mama metastático leva a uma depleção da glutationa tumoral, tornando as células malignas mais suscetíveis ao tratamento da quimioterapia.

Assim, o grupo de Bonous sugeriu, em 1991 (Bounous et al 1991), que a suplementação com whey poderia ser um eficiente agente na prevenção e tratamento de diversos cânceres.

Um estudo bem mais recente (Tseng 2006) demonstrou que a suplementação com whey é capaz de estimular a produção de glutationa após severa intoxicação alcoólica. Esse efeito benéfico sobre a função hepática, mediado pelo aumento da produção de glutationa, já havia sido apontado por Watanabe et al (2000) num estudo sobre pacientes com hepatite B crônica.

De tudo isso, eu tirei várias conclusões de uso pessoal. A primeira é que stress é coisa altamente tóxica e sem whey não tem como desintoxicá-lo. A segunda é que stress é altamente imunosupressivo e sem whey não dá para evitar a depressão imunológica. A terceira é que não dá para evitar stress, de modo que é melhor não bobear com o whey para que fígados e outras coisinhas não chiem pelo caminho. A quarta é que preciso urgentemente dar um pote de whey aos meus pais, pois o efeito estimulador de síntese protéica muscular e o retardo no envelhecimento estão documentados.

O negócio é manter o pote sempre cheio, o estoque da mochila sempre em ordem e não radicalizar com alimentação em época de stress…

 

Marilia

 

BodyStuff

 

 

Bounous G, Batist G, Gold P. Food Chem Toxicol. 2006 Apr;44(4):574-8. Epub 2005 Dec 19.

 

Bounous G, Batist G, Gold P. Whey proteins in cancer prevention. Cancer Lett. 1991 May 1;57(2):91-4.

 

Bounous G, Gervais F, Amer V, Batist G, Gold P. The influence of dietary whey protein on tissue glutathione and the diseases of aging. Clin Invest Med. 1989 Dec;12(6):343-9.

 

Bounous G, Gold P. The biological activity of undenatured dietary whey proteins: role of glutathione. Clin Invest Med. 1991 Aug;14(4):296-309.

 

Bounous G, Kongshavn PA, Gold P. The immunoenhancing property of dietary whey protein concentrate. Clin Invest Med. 1988 Aug;11(4):271-8.

 

Bounous G, Papenburg R, Kongshavn PA, Gold P, Fleiszer D. Dietary whey protein inhibits the development of dimethylhydrazine induced malignancy.  Clin Invest Med. 1988 Jun;11(3):213-7.

 

J Med. 2000;31(5-6):283-302.

 

Kennedy RS, Konok GP, Bounous G, Baruchel S, Lee TD. The use of a whey protein concentrate in the treatment of patients with metastatic carcinoma: a phase I-II clinical study. Anticancer Res. 1995 Nov-Dec;15(6B):2643-9.

 

Marshall K. Therapeutic applications of whey protein. Altern Med Rev. 2004 Jun;9(2):136-56.

 

Micke P, Beeh KM, Buhl R. Effects of long-term supplementation with whey proteins on plasma glutathione levels of HIV-infected patients.  Eur J Nutr. 2002 Feb;41(1):12-8.

 

Micke P, Beeh KM, Schlaak JF, Buhl R. Oral supplementation with whey proteins increases plasma glutathione levels of HIV-infected patients. Eur J Clin Invest. 2001 Feb;31(2):171-8.

 

Tseng YM, Lin SK, Hsiao JK, Chen IJ, Lee JH, Wu SH, Tsai LY. Whey protein concentrate promotes the production of glutathione (GSH) by GSH reductase in the PC12 cell line after acute ethanol exposure.  Food Chem Toxicol. 2006 Apr;44(4):574-8. Epub 2005 Dec 19.

 

Watanabe A, Okada K, Shimizu Y, Wakabayashi H, Higuchi K, Niiya K, Kuwabara Y, Yasuyama T, Ito H, Tsukishiro T, Kondoh Y, Emi N, Kohri H. Nutritional therapy of chronic hepatitis by whey protein (non-heated). J Med. 2000;31(5-6):283-302.

 

Yalcin AS. Emerging therapeutic potential of whey proteins and peptides. Curr Pharm Des. 2006;12(13):1637-43.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima