Uma das coisas que aprendi cedo é que eu era diferente. E que diante de qualquer população, eu era algum tipo de exceção. Eu não contava.
Uma parte grande disso se converte em ódio e produz uma ficção. Essa ficção eu chamei de “Marilia do B”. Muitas vezes eu sei fatos sobre a Marilia do B por amigos que ouvem dizer coisas, daquelas que se conta na beira da lareira sobre bruxas e seres do além. Outras vezes, as “verdades” são jogadas na minha cara perplexa.
Soube hoje através de um Lucio (nome fictício), em meio a “porras” e cus”, escritos em caixa alta, aos gritos e com muito ódio, que eu havia sido expulsa de todos os grupos que existem. Eu era a rejeição universal. A abominação, aquela que, vista à distância, é recebida a tiros. Rejeitada, expulsa, chutada de duas organizações que ele nomeou. Da primeira eu (a Marilia de verdade) me desliguei através de e-mail muito educado, com resposta igualmente educada, em 2012. A segunda é caso ainda mais antigo, em que simplesmente abandonei (eu, a Marilia sem graça, de verdade) me afastando, por livre e espontânea vontade, de tudo por um tempo. Tenho e-mails também com convites para voltar a competir lá, mas a vontade não existia mais.
Onde surgiu a versão da abominação expulsa, chutada e rejeitada? De que tanto ódio nasceu essa ficção? Sempre da diferença. Do incompreensível. Do distante. Do “outro”.
Também fiquei sabendo que a Marília do B dormiu com dezenas de homens conhecidos de quem divulgou a promiscuidade – menos ele, o contador de histórias, é claro. Alguns deles eu não conheço, mas vi por foto. Mas a Marilia do B dormiu com todos.
Teria ela sido rejeitada e jogada no lixo, como puta rasteira que juram alguns que ela é? Ou teria mastigado e cuspido, como os que alegam que ela é puta fria e sem dó? Não tive resposta. A Marilia do B é um mistério.
A Marília do B é princesinha, milionária, mas vive de vender o sexo. Vai saber como isso funciona, mas na ficção, tudo é possível. A Marília do B é arrogante e culta, mas dorme com qualquer bêbado de esquina. Por quê, são mistérios desta ficção.
A Marilia do B não foi torturada e estuprada: aos 16 anos, ela já era a máquina de sedução que vitimiza os homens. A Convergência, hoje PSTU, caiu na armadilha da terrível e experiente mulher de 16 anos. O choro e o terror da expressão dela eram teatro da fria prostituta, instrumento de forças ocultas infiltrada ali sabe-se lá para quê.
Os abortos forçados foram experimentos dela com a espécie humana, pois agora sabemos que ela é representante de inteligência extra-terrestre em busca de dominação.
A Marília do B está na boca de dezenas, talvez centenas daqueles que beberam do caldeirão fétido onde outro ser misterioso mistura medo, inveja, desconhecimento, estranhamento cultural, intolerância, discriminação e desejo. O caldo é servido frio, em cumbucas de ouro de tolo.