Algumas observações sobre a reação do público a postagens em mídia social. Eu não sei se geram receita para alguém que venda algo além de sua imagem, mas são observações sistemáticas:
Obviedades motivacionais são os conteúdos de maior atratividade. Fatores que aumentam a resposta (tanto “curtidas” como comentários, ou “engagement”):
– ter alguma foto dramática (daí o sucesso brasileiro do instagram)
– ter menos de 200 caracteres. Mesmo assim, se for um relato dramático pode ter até 500 caracteres sem prejudicar o efeito
(“a garra e a determinação do guerreiro levam a bla bla bla impossível não existe”, “o que importa é o quanto você aguenta de porrada da vida bla bla bla”, “a fé move montanhas, rios, casas bla bla bla”)
Auto-promoção em postagens não provoca rejeição, o que é contra-intuitivo. Na interação pessoal, afirmações categóricas e reivindicações infladas sobre sua própria qualidade, conquistas, caráter, sucessos, etc. são elementos que afastam, geram desconfiança e antipatia. Nas postagens não parece haver esse efeito, pelo contrário.
(“novamente campeão inter-galáctico e recordista inter-planetário de bolinha de gude, agradeço a Deus, aos anjos do além e a todos aqueles que eu inspirei e ajudei a jogar melhor suas bolinhas – foi com muita garra e determinação que eu cheguei aqui”)
Aforismos completamente sem fundamento estatístico ou empírico, mas que atribuem sentido e otimismo a ocorrências casuais, interações negativas e outras pequenas (e grandes) tragédias são altamente apreciados.
(“a vida afasta aquelas pessoas que já deviam ser afastadas mesmo”, “perdas não são perdas, na verdade são ganhos disfarçados”, “é preciso cair em alguns buracos para subir alguns muros”, nessa linha)
Indiretas, na forma de narrativas com sujeito indeterminado ou formas de ocultamento de identidade (“disseram tanto que iam fazer, mas não fizeram…”, “algumas pessoas pensam que eu não sei que elas na verdade…”), por mais patéticas que sejam, compõe pelo menos 10% das postagens diárias, a qualquer momento. Não têm enorme resposta, mas o número de curtidas e respostas mostra que fofoca ainda é grande parte da atividade em mídia social. Será que vende algo? Gera resultado ou valor para o fofoqueiro? Não sabemos, mas, considerando que outros 60% de postagens são narrativas do cotidiano, é a fofoca e a manipulação dos vínculos pessoais que geram bilhões de dólares nesse negócio. Zuckerberg que o diga.