Carta aberta a um amigo, no caso, o Deni

A pauta aqui é a minha decisão e falta de vontade total de participar de conversas que não me dêem uma das seguintes coisas: 1. Diversão; 2. Prazer; 3. Grana.

Recentemente eu disse que não responderia uma pergunta técnica no seu espaço e dei como motivo o fato de que não estava disposta a correr o risco (alto) de hostilidades mais ou menos diretas. E é verdade. Poderia também não responder por estar sem tempo, pois meu tempo é completamente loteado, ou poderia estar simplesmente sem saco.

Meu tempo já era e meu saco também. As curvas de experiência e proeminência profissional infelizmente são coincidentes. Então vamos lá: eu tenho 50 anos. Mas não são 50 simples anos, são 500 anos vividos em 50. Nestes 50 anos eu percorri, com direito a muitas publicações e titulação, cinco disciplinas científicas dos dois grandes universos, por muitos considerados incomensuráveis, do saber. Nestes 50 anos, eu entrei e saí de relações incríveis e de intensidade solar, vivi culturas e países diversos, usei drogas psicodélicas, tive uma filha, quase morri algumas vezes, militei por revoluções impossíveis e outras possíveis.

A esta altura, tendo sido bem sucedida em transferir meu capital simbólico da carreira anterior para a atual, nas ciências do esporte, meu tempo está loteado: tenho 3 manuscritos de livros inacabados, com prazo para este ano, com editoras em cobrança; não sei nem contar quantos artigos, entre acadêmicos e populares; clientes e parceiros comerciais em projetos ousados e arriscados, pois envolvem grana.

Na minha modalidade esportiva, sou a atleta que mais “alto” chegou, com um recorde inter-federativo e o primeiro lugar no ranking mundial inter-federativo. Nem conto mais os recordes mundiais e muito menos os títulos. Não preciso defender isso: os números falam e as tabelas são claras.

Para quem inveja a visibilidade e reputação internacional que eu conquistei, sugiro re-pensar este sentimento, pois nada vem de graça e certas conquistas têm um preço bem salgado.

Como miséria pouca é bobagem, eu resolvi assumir uma federação esportiva. Depois de muitos dissabores e decepções, a decisão foi inicialmente motivada por uma demanda prática: resolvi permanecer mais uns anos no Brasil, de modo que necessito de pelo menos uma entidade decente para ME avalizar em competições internacionais. Como não tinha, eu tive que fazê-la. Fiz. Cuido dela. Mando. Ponto.

Todos sabem sobre minha postura ideológica stricto sensu e lato sensu: sou uma pessoa de esquerda, apartidária, feminista militante e com uma atuação contundente. Meus textos estão viralizados pela internet e publicados em papel por toda parte, de modo que passou a chance de ser “discreta”, se é que alguma vez esta opção existiu.

Sou agressiva e escrotamente justa e correta.

Colecionei inimigos por todas as partes onde existe sacanagem: entre a burocracia universitária, principalmente seu baixo clero, entre as máfias corruptas da administração esportiva (os “dirigentes”), entre a ultra-esquerda brasileira,que age como ultra-direita, entre os machistas de todas as cores, entre evangélicos que gostariam de me enforcar na minha luta por um Estado laico e contra o ensino de criacionismo, outra frente de militância importante. Devo ter outros.

Estou em paz com isso: assumir um lugar no mundo implica isso também, pois as forças que pretendem conservá-lo no campo da injustiça e má conduta são variadas e numerosas.

Assim, a essa altura, eu ganhei certos direitos. Estes direitos existem para todos, mas para mim são gritantemente verdadeiros. Paradoxalmente, são os mais questionados. Eu ganhei o direito de participar ou não do que eu bem entender, por exemplo. Ganhei o direito de não ir a lugares onde não quero ir. Ganhei o direito de sequer ter que me justificar.

Eu discuto com quem eu quero e quando tenho vontade. Alternativamente, se me pagam. E aí têm que me pagar bem – também ganhei esse direito: de cobrar certo, ou seja, caro.

Também estou em paz com isso, que faz muita gente tirar as calças e pular em cima, de tanta raiva, me chamando de arrogante. É, eles têm razão. Sou arrogante. E daí? Meus alunos não têm queixas, nem meus atletas. O resto, que se dane.

Foi-se o tempo em que eu achava que tinha que agüentar hostilidades em nome de alguma causa inexistente.

Não vou citar os inimiguinhos do esporte por um simples motivo: não ganho nada com isso agora. Talvez nunca. Alguns sofreram conseqüências por ataques imbecis contra mim – outros ainda vão sofrer e outros não vão sofrer nada, nunca, pois esse papo de justiça e karma não tem muita confirmação na realidade. Finalmente, são “inimiguinhos”, coisa pequena, gente que, quando morrer, nunca terá existido.

Gosto muito de conversar bobagem e coisa séria com você, mas na sua casa virtual, não quero ir. É meu direito conquistado não me expor a nada que não me seja realmente agradável e divertido. Quem achar muito importante conversar comigo tem como me procurar. Se eu concordar (que é importante conversar comigo), eu responderei. Responderei com educação formal, não com brasileirisse. Se o sujeito pergunta, é um estranho, então está se colocando na posição de quem não sabe perguntando para quem sabe (e tem a posição hierárquica para tal). Meu tom é e sempre será o da professora, exceto quando eu (e mais ninguém) escolher sair dele.

É: eu sou antipática, chata, bem mais inteligente que o interlocutor, de modo que qualquer queda de braço intelectual comigo é perda de tempo, enfim: uma escrota arrogante.

Ficou claro?

Beijo!!!!

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