Choramingação é um saco – viva o esporte competitivo

Acho que poucas coisas são tão chatas e irritantes como ouvir das pessoas que “não aguentam” estudar tanto, “não suportam” ficar sem comer batata frita e que ir à academia todo dia é “terrível”. Não só é chato para quem tem que escutar essa choramingação, como é o pior hábito mental possível no que diz respeito à origem do stress, da ansiedade e da depressão. Será que existiria alguma prática social que fosse eficiente para minimizar esse hábito e dar instrumentos ao indivíduo para resistir a ele? Eu acho que sim. E acho que essa prática é o esporte competitivo. Acho que toda criança deveria passar por uma fase na vida em que praticasse algum esporte competitivo. No esporte competitivo, a criança se engaja em coisas altamente positivas, embora controversas: em primeiro lugar, o objetivo do esporte competitivo é ganhar, é ser o melhor, é superar os parâmetros disponíveis (que, em geral, estão encarnados no adversário). É bem hipócrita ficar repetindo que o objetivo é participar. É nada. É ganhar. Mas é ganhar com mérito! É ganhar porque você é o melhor, não porque é mais simpático ou tem mais grana. Se não, não tem graça. Então a criança estabelece uma relação mais corriqueira com uma condição concorrencial que é própria de tudo na sociedade moderna. Estabelece uma relação com a lógica meritocrática: é premiado quem tem mérito. Com esses estímulos, ela tem a oportunidade de estabelecer outras relações importantes. A primeira é com a “recompensa tardia”. Ela se torna menos imediatista porque a recompensa, que está mais lá na frente, vale a pena vários investimentos e arma a pessoa de paciência e auto-controle. Ela também desenvolve uma resistência muito maior a stress: é preciso aguentar uma certa dose de frustração, privação e até mesmo dor para alcançar o objetivo cobiçado. Isso mostra que a frustração, a privação e aquela dorzinha não matam nem são tão terríveis. Some o “insuportáve”. Tudo fica mais “suportável”. Ela percebe que sim, “aguenta” muito mais. E nada é tão “terrível”.
Me lembro de quando eu tinha 14 anos, treinando para o campeonato brasileiro de esgrima que acabei ganhando, ou para tantos outros, que também ganhei ou pelo menos subi no pódio. Festinha na sexta-feira anterior ao campeonato, nem pensar. Todos os meus amigos iam – eu ficava em casa, me concentrando, comendo e descansando. Ganhei com isso muito mais que medalhas e troféus. Ganhei com isso os únicos instrumentos que tive para lutar contra coisas muito, mas muito mais complicadas, duras e letais que a Mimi, minha terrível e competente adversária que ficou vice-campeã naquele ano.

Marilia


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