Comida de hospital – da série Vida de Hospital

Ontem completei uma semana de internação e parece que tenho pelo menos esse tanto pela frente ainda. Uma semana é tempo suficiente para passar por vários estados de consciência num hospital. O primeiro é uma baixíssima percepção em relação ao entorno: a dor, o medo, as sensações diretamente ligadas à condição que nos trouxe até ali predominam. Nesse período, o que importa é a abilidade das equipes em lidar com elas. Meu primeiro contato foi com a equipe da Dor (próximo artigo).

Depois que passa aquele momento em que a única cor que a gente vê é o verde da própria dor, é possível observar um ambiente habitado por pessoas que se comunicam num código próprio, atuam segundo um sistema de regras de lógica auto-referente e interagem conosco também segundo determinados padrões. O ambiente também tem cores, odores, objetos e finalmente, sabores.

Hoje é o dia dos sabores.

É senso comum que comida de prisão, quartel e hospital é um horror. Pois é, não é. Não posso falar da comida de prisão porque nunca fui presa, nem tampouco de quartel. Mas já comi muita comida de hospital.

Existem aqueles hospitais que produzem uma comida insosa e padronizada, com duas ou três variações possíveis: diabético, hipertenso e normal. Aqui não: no Oswaldo Cruz eu recebi a visita da nutricionista no primeiro dia de internação. Ela me perguntou sobre minha dieta. Expliquei a ela que meu endocrinologista tinha chegado, comigo, a uma dieta sem carboidrato como medida terepêutica (achei melhor explicar direito, vai que ela acha que é uma frescura qualquer). O que tive aqui foi o melhor rango dos últimos meses: filé ao molho madeira com acelga, salada de folhas verdes com tomate e pepino e mousse diet de sobremesa com água de coco para tomar; salmão grelhado com espinafre, salada, gelatina diet e suco de limão fresco, bolo de carne com brócolis, saladas variadas, gelatina diet, etc. No café da manhã, lanche e ceia, temos ovos mexidos, queijo branco, peito de peru e café com leite, ou chá, ou água de coco. E de noite me trazem, a meu pedido, um litro de leite.

Até agora, a cardápio não se repetiu um único dia.

Com uma comida dessas, servida na bandeja, em louça branca coberta por magipac, bulezinhos em aço inox com três doses boas e um monte de fruta que você pode guardar para suas visitas, qual a pressa de ir embora?

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