Corrida e treinamento de força

Hoje vou responder as perguntas que o Daniel fez sobre corrida de longa distância e treinamento de força. Palavras dele:

1) Num dos textos você dá a entender que não seria bom para o emagrecimento o treino aeróbico na esteira após a musculação. Entendi certo? Se é isso mesmo como conciliar emagrecimento, treino de força e as minhas divinas corridas longas? Quero emagrecer mas não quero deixar de correr, pois minhas corridas são experiências místicas.

2) Crossfit e maratona combinam? Dá para encaixar? O ambiente é mais amigável para um “cérebro com perninhas” do que a academia tradicional?

Parte das suas perguntas cai numa velha polêmica sobre treinamento concorrente: de fato o treinamento de endurance de alta intensidade concorre e é detrimental ao treinamento de força (de alguma intensidade). O que isso nos diz é o que o bom senso também diria: é preciso fazer escolhas. Se o seu barato são as corridas de longa distância, então o treinamento de força é um suporte para elas (e para sua saúde). Vamos encará-lo assim, portanto.

O objetivo do corredor de longa distância é correr melhor, mais rápido, com mais controle sobre o rítmo e sem lesões. Otimizar estes objetivos não combina muito com foco em hipertrofia muscular ou força máxima. O volume muscular ótimo de um corredor de longa distância será aquele que maximize sua saúde articular (já que a musculatura constitui estrutura estabilizadora secundária, ao lado de tendões e ligamentos) e sua força de resistência. Será o menor volume possível que atenda a estes requisitos. Por que menor? Pelo peso. Quanto mais leve o corredor, mais eficiente será sua corrida.

O objetivo de se treinar os levantamentos básicos, por exemplo, não é produzir um grande agachador. Grandes agachadores têm uma grande massa muscular e são pesados. No entanto, o treinamento de força e a eficiência nos movimentos fundamentais da locomoção humana (agachar, puxar, empurrar, rotacionar, etc) é básica para qualquer modalidade, corrida de longa distância inclusive.

O que o corredor quer é uma musculatura forte, resistente e de máxima eficiência (maior recrutamento por menor volume).

Minha recomendação de que não se pratique corrida, propriamente dita, após um treino com pesos deriva do conhecimento de que esta combinação é contraproducente. Ocorre um efeito de concorrência e os estímulos dados durante o treinamento de força são prejudicados pela corrida. Atenção: não me refiro a um trotezinho leve de meia hora depois do treino. Essa é uma atividade anti-inflamatória, e não de treinamento cardio-vascular ou de endurance. É o que eu carinhosamente chamo de “lavar meus músculos”.

Então, como deve treinar um corredor de longa distância? Com uma boa periodização e divisão semanal de treinos. É só não fazer um em seguida do outro. Podem ser feitos no mesmo dia, desde que se dê um tempo adequado para recuperação entre um e outro.

Quanto ao emagrecimento, mais uma vez, não se preocupe: um bom treinamento de força promove emagrecimento com qualidade. A recuperação do stress do treinamento de força é complexa e envolve um aumento da atividade oxidativa de gorduras por um período prolongado. Como o corredor sábio fará ambas as atividades – seu treino periodizado e devidamente ondulado de corrida e sua preparação esportiva com treinamento de força – terá os dois benefícios: o do gasto calórico agudo da corrida e o crônico da força.

Sim, Crossfit e corrida combinam maravilhosamente bem: num ginásio Crossfit, o atleta terá todos os estímulos de “força e condicionamento” combinados em blocos semanais. Para o corredor de longa distância, é uma abordagem muito adequada.

Finalmente, sim, o ambiente da maioria das crossfits (todas que conheço) é muito mais amigável aos “cérebros com perninhas”, indivíduos de um nível educacional mais alto, com senso crítico agudo e inexoravelmente reflexivos quanto a toda a sua experiência de vida.

 

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