Esteróides e saúde mental – uma agenda abortada

Fiz um levantamento na literatura médica por pesquisas relativas ao efeito e emprego de esteróides androgênicos anabólicos em saúde mental. Quanto às décadas recentes, observei o óbvio: nenhuma pesquisa. Tudo que há em relação ao tema são relatos de uma suposta dependência de esteróides e seus desdobramentos negativos. No entanto, expandindo a busca para datas mais antigas, descobri algo surpreendente. Entre 1951 e 1962 houve pesquisa envolvendo o emprego de esteróides em pacientes de desordens mentais. Como os artigos são muito antigos, não pude ainda ler seu conteúdo. Os títulos, no entando, indicam uma agenda de pesquisa possivelmente fértil – nenhum título com evidências de ausência de efeito ou efeito negativo. São 20 artigos sendo 11 deles publicados em outras línguas que não o inglês (a maior parte destes artigos “estrangeiros” são italianos).
 
Ano
Periódico
Título
Autores
1951
Rev Med Cienc Afines. 1951 May;9(106):654-85.
[Action of testosterone propionate on the psychical state in aged.]
PASCUAL DEL RONCAL F.
1951
Acta Psychiatr Neurol Scand. 1951;26(3-4):415-37.
Sex steroid therapy in psychiatric disorders; the therapeutic effect of testosterone and estradiol on hospitalized psychotics: clinical findings.
SACKLER MD, SACKLER RR, SACKLER AM, CO TUI FW, VAN OPHUIJSEN JH.
1952
Br Med J. 1952 Jul 12;2(4775):66-8
Treatment of inadequate personality in juveniles by dehydroisoandrosterone; preliminary report
SANDS DE, CHAMBERLAIN GH
1952
J Clin Endocrinol Metab. 1952 Jul;12(7):831-40.
Neutral steroid excretion by normal and by schizophrenic men
MITTELMAN A, ROMANOFF LP, PINCUS G, HOAGLAND H
1952
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Clinical report on the use of testosterone in psychiatric syndromes.
MARGETTS EL
1953
Minerva Med. 1953 Aug 11;44(63-64):344-50.
Use of dehydroisoandrosterone in psychiatry
ZUBIANI A, LARICCHIA R
1953
Minerva Med. 1953 Jun 27;44(51):1731-4
First clinical results of application of dehydroisoandrosterone in the neuropsychiatric field
1953
Minerva Med. 1953 Jul 28;44(59-60):263-6.
[Preliminary findings on the use of dehydroisoandrosterone in psychiatric
FERRARI V, DECLICH M.
1953
Prensa Med Mex. 1953 Apr;18(4):90-8.
[Treatment of mental deficiency with testosterone.]
ROCH E, PEINADO ALTABLE J.
1955
J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1955 May;18(2):137-44
Use of dehydroisoandrosterone in psychiatric practice
STRAUSS EB, STEVENSON WA.
1955
Riv Med Aeronaut. 1955 Jan-Mar;18(1):78-88.
Use of dehydroisoandrosterone in pilots affected with flying fatigue
1955
J Lancet. 1955 Mar;75(3):109-10.
Psychiatric use of dehydro-isondrosterone in college students; a pilot study
1955
J Indian Med Assoc. 1955 May 16;24(16):629-30.
Testosterone in mental disorders.
SINGH K.
1956
Minerva Med. 1956 Jun 23;47(50):1979-85
Dehydroisoandrosterone in mental diseases
1957
Z Gesamte Inn Med. 1957 Oct 15;12(20):922-7
[Use of sexual hormones, especially androgens, in psychic disorders.]
WENZEL E
1957
Minerva Med. 1957 Dec 5;48(97):4097-100
[Use of androstenediol in neuropsychiatric therapeutic practice.]
DAZZI P.
1958
Lyon Med. 1958 May 25;90(21):799-803
[Use of androstanolone base in depressive states & states of a mental weakness;therapeutic note.]
BROUSSOLLE P, LAUXEROIS G.
1961
Dia Med. 1961 Jun 5;33:984-6
Association of long-acting procaine and dehydroisoandrosterone in the geriatric psychophysical revitalizing treatment. Preliminary report
1961
Boll Soc Med Chir Cremona. 1961 Oct-Dec;15:135-46.
[Data on the therapeutic association of nialamide and dehydroisoandrosterone in mental disorders of the female climacteric.]
ZANIBELLI G.
1962
Dis Nerv Syst. 1962 Apr;23:226-30
Anabolic steroids in the treatment of psychiatric states (effect of oxymetholone
 
 
Do ponto de vista da simples dinâmica da produção científica, esta tendência é curiosa. Um surto de interesse e investimento numa linha de investigação abortado sem o relato de evidências negativas.
Considerando que, se eficaz, o emprego de esteróides androgênicos em desordens mentais teria um custo muito mais baixo do que o das inúmeras gerações de anti-depressivos e neurolépticos, esse abortamento dá o que pensar. Considerando, um pouco mais, que o emprego de esteróides androgênicos não inibe a iniciativa dos pacientes, nem tampouco sua libido e muito menos sua capacidade cognitiva – todas essas funções fortemente prejudicadas pelas drogas psicotrópicas atualmente em uso – esse abortamento dá ainda mais o que pensar.

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