Falando sobre Desordem bipolar

 

Depois de mais ou menos dois anos escutando meus amigos pedindo que eu escreva de forma mais sistemática sobre Desordem Bipolar, em geral, e sobre a minha relação com a doença, em particular, já tinha decidido que falei o suficiente e encerrado o assunto. Até que apareceram uns quatro ou cinco casos muito próximos que me chamaram atenção: o primeiro, a sobrinha de um grande amigo, também bipolar. Fiquei pensando na minha própria família, cujos casos de desordem foram devidamente silenciados e tiraram de todos nós a possibilidade de pensar nossa condição como algo geneticamente partilhado. O segundo é a esposa do amigo de um grande amigo. O amigo vive momentos de extremo stress e ressentimento, meu próprio amigo observa tudo e tenta ajudar através do pouco de experiência que adquiriu lidando comigo e ele mesmo tem contato recente com essa complicada demanda de quem tem que conviver, amar e administrar relações com portadores de desordem bipolar. Ninguém está preparado. Pior quando o portador se suicida. Aí sim caímos no grande tabu, e através dele, à subtração virtual de todos os instrumentos emocionais, cognitivos e educativos para que parentes e amigos elaborem a perda. O terceiro caso é um amigo cuja mãe se suicidou o ano passado e começa a identificar em si mesmo sinais que gostaria de compreender. E fiquei pensando que o grande barato da psiquiatria mainstream é não dar essa opção a ninguém: o poder de identificar sinais, sintomas e condições é monopólio deles e só deles. O que é altamente canalha. Tem mais uma meia dúzia de casos que foram caindo no meu colo nas últimas semanas, mas estes foram os que me fizeram re-pensar minha decisão de encerrar minha abordagem sobre a doença.

Assim, inauguro aqui esta sessão, que pode ou não se tornar algo maior, e convido a todos que opinem, perguntem, expressem suas inquietudes diante do que hoje tem sido um dos temas mais pesquisados na psiquiatria clínica e também mais enfeitados por folclore, mitos e bobagens de todas as cores e tamanhos.

O que eu pretendo é fazer uma leitura paralela do que a literatura médica tem oferecido, o que os pacientes mais vocais têm expressado e meu caso particular, que, segundo todos que conheceram, é único em termos da combinação entre gravidade, controle, forma de controle e qualidade de vida.

Mãos à obra e abro para o público.

 

Marilia

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