Esse termo me foi explicado pelo Gilson, e acho que inventado pelo Mendinho, não sei. Sei que é algo que todo atleta de esportes como o nosso entende bem. É a ressaca da volta dos campeonatos.
Os campeonatos são nossos momentos perfeitos. Neles, re-vemos amigos com os quais passamos muito tempo sem contato. Esses amigos são quem nos dá um senso de identidade forte: com eles, sabemos realmente quem somos. Nos reconhecemos. Esses amigos muitas vezes são adversários, mas no nosso esporte, adversário não é inimigo. É o oposto: é o parceiro sem o qual não construímos nossa identidade.
É assim em TODOS os campeonatos. O primeiro do qual participei, o brasileiro de supino do ano passado, não deixou tão claro o efeito. Eu era nova, não conhecia ninguém ainda, mas já foi suficiente para representar uma grande quebra no stress de um período complicado. No campeonato seguinte, a Copa São Paulo de Itu, já apareceu o “efeito Cinderela”: acabou o campeonato e eu fiquei de péssimo humor, já no caminho para casa. Voltar para o Brasil depois do Uruguay, em novembro, então…
Depois veio o fim-do-ano, as festas e eu mal me segurava de ansiedade para ver o novo calendário competitivo. Começamos a nos preparar para a Copa Teles, mas eu pentelhei o Gilson para que me levasse para a Gerbi antes. Por que? Porque sim! Porque lá eu sabia que ia ver a galera toda, que ia com o Renatinho, Lurdes, Dani e Gilson no caminho falando besteira, que ia encontrar o Lê, Mendinho, Luciano, Erica, Val-e-seus-meninos, Alex, etc, etc. etc.
Voltar foi foda.
Então veio a Teles. Foi só aí que eu percebi que ganhar o campeonato é legal, mas não é bem esse o ponto central. Do ponto de vista esportivo, o meu barato particular era vencer: 1. o medo do agachamento. Quando acertei a última pedida de 132,5kg para mim foi um pódio olímpico; 2. o medo do terra, no qual eu tinha desmaiado no brasileiro anterior. Quando acertei as três pedidas, foi a segunda medalha olímpica. Do ponto de vista pessoal, foi BEM mais importante: a ida na Van com todas as brincadeiras, dormir na sala de aula da escola com a galera toda, as famosas brincadeiras de peido, partilhar sabonete e whey, e depois aquela relação paradoxal com os adversários. Todos se ajudaram. Janaina, que teoricamente seria minha adversária, me ajudava a todo momento e o namorado dela foi meu spotter de agachamento em uma das vezes (das outras foi o grande-pequeno Henrique The Lifter). Ana Rosa teria sido outra adversária e no fim do campeonato trocamos camisetas: ela tem uma da GCA e eu uma da Duggen.
O campeonato acabou às 3:30h, todos super cansados, mas fomos comer pizza. E depois dormir na escola.
Pronto: era o fim de mais um fim-de-semana perfeito. A volta foi um silêncio total na Van. Em parte pelo sono e cansaço, mas em parte pela broxada geral que é ir embora, dizer adeus aos amigos e enfrentar o que nos esperava na cidade mais insuportável do país.
Todos os sinais de stress já se anunciavam para mim: herpes na boca, acne no rosto… E o peso, que eu tinha manejado para ficar na categoria 60kg com 56,400kg, desceu para 54,4kg em dois dias. Isso mesmo: dois quilos em dois dias.
Cheguei em casa e encontrei dezenas de problemas de todos os tamanhos e todas as naturezas: dos domésticos, passando pelos burocráticos, financeiros e profissionais. Tudo que eu queria era voltar o relógio e estar de novo às 2 da manhã, fedida, com dor na lombar, cansada e preenchendo súmula num laptop velho que ameaçava apagar.
No auge do baixo-astral, conversei com o Gilson. Foi quando aprendi o nome desse efeito. E ali, olhando minha carruagem transformada em abóbora e os ratos que dias antes eram lindos corcéis, me dei conta de que preciso me preparar para esse fenômeno.
Será que consigo? Não sei… Sei que mal posso esperar pelo Paulistão.
Marilia