Em primeiro lugar, convido todos a ler meu outro artigo sobre o tema: “Recado para as empresas. Patrocínio esportivo: não é a modalidade que vende, e sim o atleta-artista-comunicador” .
Acho que a maior parte dos conceitos envolvidos nesse tema já foi desenvolvido no texto acima. Mas vamos ao que interessa: a única alternativa do atleta que tenha pretensão de se manter no alto rendimento, hoje, é ser pró-ativo e entender-se como parceiro de investidores externos.
A famosa bolsa-atleta, que de fato remunera o atleta para apenas comer, treinar e competir, é, do meu ponto de vista, uma perversão. É apenas uma brasileirisse que dá continuidade ao modelo patromonialista onde o Estado-pai atua ao mesmo tempo como progenitor autoritário e complacente, passando a mão na cabeça da eterna criança sustentada por estes benefícios.
É isso mesmo: eu sou contra as bolsas, tanto de atleta como estudantis, que não implicam em outra contrapartida do beneficiário do que “existir” como atleta ou estudante, exceto se for um jovem. Assim, o bolsa-atleta só faria sentido se fosse concedido nos programas de seleção de talentos.
Da maneira que existe, o bolsa atleta é um benefício manipulado por dirigentes corruptos para exercício de formas de poder autoritárias e com amplo potencial de corrupção, em geral aproveitado.
Vamos ao que funciona: o atleta como empreendedor. Isso requer que você, atleta, tire a bunda da cadeira metafórica e PENSE, elabore projetos mediante os quais possa se qualificar como um bom investimento para a empresa parceira. Se você não leu o texto recomendado, é isso que você passa a ser: um parceiro da empresa. O patrocinado não é um “filho” que recebe mesada, nem tampouco um retardado que recebe esmola. É um parceiro comercial que gera receita, seja pela via do marketing, seja por outra via.
O atleta mais bem colocado para esta nova pro-atividade é aquele que é bom formador de opinião e tem HABILIDADES COMUNICATIVAS. Se você não tem, trate de desenvolvê-las, pois no moderno conceito de patrocínio, vigente nos países com economias de mercado desenvolvidas, estas habilidades contam mais do que seus títulos e marcas.
Tomo a liberdade de usar o exemplo de um atleta que me propôs a questão ontem: uma empresa de produtos veterinários se interessou em patrociná-los. O que fazer? Em primeiro lugar, aquilo que qualquer potencial parceiro deve fazer: entender as necessidades do outro. Em segundo, se qualificar como um bom investimento. Em que condições um atleta de força pode ser qualificar como um bom investimento para uma empresa veterinária? Posso pensar em várias, mas a primeira que me ocorreu foi o grande envolvimento que vários atletas de força fazem em campanhas pelo bem-estar animal e em defesa dos mesmos. Vejamos o impacto de algo como “o forte é aquele que defende quem não pode se defender sozinho”, ou algo assim.
Ponham na cabeça que o consumidor consome aquilo com o que se identifica. O movimento negro tem levantado essa bandeira há tempos e, por causa do teor político, ninguém entendeu a profundidade mercadológica do que dizem: a mulher negra obviamente vai ter muito mais interesse nos produtos apresentados por modelos negras. Se você é um atleta negro, acorde! Em vez de bancar o babaca e dizer que o movimento negro é radical, apresente-se como um bom porta-voz da empresa para um gigantesco nicho inexplorado para a publicidade, que tem o bonito nome de “demanda reprimida”.
Não teria cabimento eu, com essa cara de professora universitária nerd, fazer propaganda de suplemento com biquíni fio dental e olhar estupidificado, teria? O que vende essa imagem, além do biquíni? Muita coisa, mas coisas compradas por aqueles que se identificam com essa imagem beirando ao “porn”, a imagem feminina dominante. O grosso das garotas jovens com menor poder aquisitivo e nível educacional será fortemente atraída por essa imagem. Mas a executiva bem sucedida, de mais de 40 anos e alto nível educacional quer ver a si mesma na propaganda. Qual modelo a empresa deve escolher? Que imagem, que assinatura, que palavras?
Você é um atleta jovem, homem, forte e saudável. Que empresas terão maior interesse em você? Aquelas que vendem produtos que se identificam com os anseios dos jovens, com saúde, com progresso profissional. Universidades? Empresas de seguro médico? De alimento? Use a criatividade!
O recado é esse: o mundo está mudando. A opção é sua de mudar com ele, evoluir, desenvolver seu empreendedorismo ou se agarrar ao passado e às tetas do Estado, dos políticos e de qualquer um que abra suas suspeitas asas sobre você.