Hoje eu entendi o arremesso. A melhor aproximação da emoção do momento é euforia. A mais precisa é amor. Um tipo de amor genérico.
Gente louca, com cérebros esquisitos, ou esquisitos desta maneira que é o meu, necessita reconhecer significado com certa freqüência. Ao contrário do default social, a vida não tem valor inerente. São estes significados que lhe dão o valor, e este tem que ser atualizado o tempo todo. Não, não achem infernal: só parece porque vocês não estão dentro de nós. Para nós… é o que conhecemos. Somos sistemas de busca e reafirmação de significado.
Sempre falo do dia em que saí da câmara escura com a auto-radiografia do receptor de fibronectina em superfície de T. cruzi: significado. A vida tinha significado. O grito era uma expressão de reverência, de espanto e de… amor.
Sempre falo do nascimento da Mel, de tê-la colocada em cima do meu peito, eu ainda crucificada na mesa de cirurgia, ela, enrolada num pano azul, com os olhos abertos e pretos olhando pra mim. Choro de reverência, espanto e amor.
Idéias causam reverência, espanto e amor: o modelo se forma na ponta dos meus dedos e cria significado.
Mas hoje, de longe, o que mais gera significado é essa sublime expressão da minha essência gerada pelo movimento num equipamento pesado. Terça feira, quando executei meu supino preciso, comemorei sozinha com as corujas e dei um beijo na barra.
Hoje me senti uma criança com brinquedo novo com o primeiro tempo do arremesso (o segundo ainda tem chão). Joel me mandou parar de ficar ioiozando no chão com a barra, mas aquilo era incrivelmente divertido. Finalmente entendi o que era entrar embaixo dela. Gritei um uuuuu qualquer que ninguém deu bola. Ou deu. Mas era um grito de reverência, espanto e amor.
Em tempos tão estranhos, tão cheios de “temquismo”, ninguém faz idéia do que representam as tardes de CFB para mim. Gente louca murcha e morre sem significado. E lá que encontrei uma fonte inesgotável disso. Disso que me mantém viva, razoavelmente sã e feliz.
Nada mais importa.
No fim, só existe a Força.