Por coincidência, ontem assisti o filme “The Peaceful Warrior” (Poder além da vida) logo depois de ler a notícia sobre a vitória de Diego Hipólito no Campeonato Mundial de Ginástica em Stuttgart, Alemanha.
“The Peaceful Warrior” é um filme baseado na experiência do ex-ginasta americano Dan Millman, que sofreu um acidente de moto e inúmeras fraturas às vésperas das seletivas para os jogos olímpicos. Antes um garoto talentoso, porém superficial e mesquinho, orientado pela “corrida do ouro” da mentalidade convencional do esporte de alta performance, Dan se transforma a partir de insights derivados das artes marciais e filosofias orientais.
O filme é “mais ou menos”, não sei como são os livros (Millman escreveu vários) e o site (http://www.danmillman.com/ ) é muito ruim. Fiquei com a triste impressão que toda aquela descoberta e jornada interior levaram Dan Millman a se tornar apenas mais um mercador da auto-ajuda New Age. Não vejo problema nenhum em aceitar recompensa financeira pelo trabalho de ensinar e pelo valor de informação profunda, mas um mínimo de generosidade deveria vir junto com esse despertar para “algo maior”.
Em algum ponto do filme, os amigos/rivais de Dan Millman comentam sarcasticamente as tentativas do atleta em criar um elemento de rotina avançado como sua busca para se tornar “o senhor dos anéis” (sua melhor modalidade eram as argolas).
Vendo os feitos de Diego Hipólito, vindo de um país cuja população mal sabe o que é ginástica olímpica, com apoio duramente conquistado com anos de busca e treino, fico pensando se esse foco e controle todo não estão lá, em todo grande atleta, mesmo que ele não tenha as palavras para expressá-lo. Mesmo que não tenha consciência disso tudo.
Existe o talento físico, também chamado pelo grupo de Harvard de múltiplas inteligências de inteligência física. Digamos que parte disso seja genético e se expresse em atividade neural involuntária. Até parte desse argumento eu vou. Mas especialmente em alguns esportes, a altíssima performance requer mais que talento, mais que genética, mais que suplemento, mais que alimentação, mais que fármacos – requer habilidades mentais. Como eu disse, em alguns esportes mais que em outros, acho que os atletas de elite têm essas habilidades, quer saibam ou não.
Esses atletas são todos Senhores dos Anéis. Diego é um deles.
Marilia