Joelheiras: esclarecendo dúvidas

Afinal, uma joelheira macia, de neoprene, tem algum efeito num agachamento, arranco ou arremesso pesado?

Um bom ortopedista dirá com segurança: mecanicamente, NÃO. Uma joelheira não oferece nenhum suporte mecânico e por isso mesmo é permitido seu uso em competições de powerlifting “raw”, ou não equipadas. Ao contrário da faixa de joelho, um equipamento projetado para comprimir de tal forma a articulação do joelho a ponto de reduzir significativamente as força incidentes no mesmo e proporcionar um carry-over de mais de 30% do peso não-equipado, as joelheiras não ajudam neste sentido.

Então, por que motivo tantos atletas de alto rendimento, nos levantamentos de peso – básico e olímpico – bem como no multi-exigente Strongman, usam este equipamento?

Os motivos são pouco intuitivos mas todos apontam para uma frase que meus alunos aprenderam de mim e repetem como um mantra: A ESTABILIDADE É A MÃE DA FORÇA.

O uso das joelheiras antecede as evidências científicas que explicam o efeito benéfico observado pelos atletas com seu uso. Uma das linhas de pesquisa aponta para uma melhora propriceptiva nos movimentos envolvendo a articulação do joelho quando usada a joelheira. Segundo estudos com imagem (ressonância magnética), a compressão suave deste equipamento promove maior atividade no córtex sensoriomotor primário. Aparentemente, o input proproceptivo periférico do joelho provoca esta reação neural, que promove, por sua vez, uma resposta motora de ajuste preciso no movimento no sentido de maior estabilidade e precisão (Thijs ET AL 2010). Um dos estudos aponta que, para indivíduos com boa resposta proprioceptiva (como atletas), o efeito é acentuado apenas sob condições de fadiga (Tiggelen ET AL 2008).

A segunda linha de evidência é aquela relacionada à dor. Em pesquisas com portadores de artrite, o uso da joelheira melhora imediatamente o padrão de movimento da caminhada pela redução de dor (Bryk ET AL 2011). Se é este dramático efeito sobre dor e desconforto que os atletas reportam, é difícil inferir a partir de um estudo em condições patológicas. No entanto, evidência anedótica sugere que sim.

Fatores como a manutenção do aquecimento da articulação, aumento de circulação sanguínea em função da compressão, favorecendo tanto a performance imediata como a recuperação permanecem no campo da especulação.

Muitas vezes, a evidência científica se apresenta com uma defasagem de alguns anos em relação à evidência anedótica produzida na prática do treinamento. Isso vale para o treinamento esportivo, nutrição esportiva e outros campos das ciências do esporte, onde questões metodológicas dificultam bastante os projetos de pesquisa experimental.

De qualquer forma, aqui vai a palavra da cientista, da treinadora e da atleta: joelheira vale a pena.

 

Does bracing influence brain activity during knee movement: an fMRI study.

The effects of a neoprene knee sleeve on subjects with a poor versus good joint position sense subjected to an isokinetic fatigue protocol.

Immediate effect of the elastic knee sleeve use on individuals with osteoarthritis.

 

*foto em destaque:  Marcelo Kaneshira

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