Treinamento mental e força

Quando comecei a treinar com pesos, desconhecia TODOS os esportes de força e também o bodybuilding. Tenho paixão por esportes, fui atleta, fui campeã, tenho impressas na mente as formas de integração e prazer que só se consegue por essa via. Assim, quando meus amigos bodybuilders começaram a me levar a campeonatos, me dediquei a entender esse esporte e tudo relacionado a performance nele.

Só muito recentemente descobri o Powerlifting, ou Levantamento Básico. Sempre tive uma atração especial pelos três levantamentos, integrados às minhas rotinas de treino, porque são os exercícios que mais tempo dediquei para aperfeiçoar a técnica. São exercícios complexos, que requerem muita consciência corporal e concentração.

Aos poucos fui percebendo que a carga máxima que eu sou capaz de utilizar em cada um deles varia muito mais do que as cargas dos demais exercícios do meu treino. Fui percebendo que o cansaço do dia anterior, a alimentação inadequada e principalmente meu estado de stress influem a ponto de acarretar perdas de até 25% nas cargas. Prestando mais atenção nos fenômenos envolvidos, me dei conta de que o stress e cansaço na verdade afetavam muito fortemente minha capacidade de me concentrar e que esta, independente do cansaço, estava diretamente relacionada com a performance nos levantamentos.

Comecei a utilizar algumas técnicas que aprendi com amigos praticantes de outras modalidades, particularmente lutas orientais e yoga, para me concentrar. Uma delas é controle da respiração antes do levantamento.

Não por acaso, quando treinei, sozinha, em minha própria academia, que é um ambiente claro e pacífico, respirando corretamente, tive minha melhor performance até hoje em levantamento Terra.

Atletas dos esportes de força e também bodybuilding defendem há anos a importância de técnicas e atitudes mentais na performance em treinos e competições. Paulin Nordin defende a idéia de que temos o poder de “desconfigurar” a reação à fadiga do cérebro (foi essa minha leitura do artigo dela, acessível aqui http://www.bodybuilding.com/fun/pauline4.htm ). Segundo Nordin, se, após a falha muscular, executarmos algumas “fake repetitions” (repetições de mentirinha), cancelamos a resposta automática do cérebro de bloquear a execução dos movimentos depois da falha. Conhecendo os mecanismos fisiológicos da falha muscular periférica e central, e considerando que a autora testou e verificou a eficácia de seu método (eu não testei!), as afirmações dela dão o que pensar. Principalmente se lembrarmos das inúmeras lendas urbanas relativas a momentos em que pessoas comuns vencem sobrecargas absurdamente superiores ao que seu peso e treinamento faria supor possível.

A mais conhecida das técnicas mentais utilizadas no treinamento de atletas é conhecida como “imagery”. Estas técnicas se desenvolveram muito nas últimas décadas através de pesquisas em psicologia esportiva e incluem o “ensaio mental” (antecipação das ações de um treino, com a visualização de performance ótima) e outras técnicas que produzem ou modificam atitudes (por exemplo, inibir a reação automática à perspectiva de levantar um dumbell “pesado”, aprendendo a abordá-lo como “não pesado”).

Não tenho dúvidas de que isso tudo é apenas a superfície de um vasto e desconhecido mundo no que se refere à relação entre atitude mental e a função força. Como sempre, as pesquisas se concentram em outros esportes e outras ações humanas.

Acho que o caminho mais fértil, aqui, é escutar com cuidado e isenção a experiência de atletas e treinadores, bem com aprender com as mais variadas culturas, desde yogues, passando por lutadores de artes marciais, e adeptos de técnicas de meditação. Nossa ciência “mainstream”, por enquanto, tem pouco a ensinar.

 

 

Aqui estão algumas referências sobre o poder da mente no treinamento com pesos:

http://www.bodybuilding.com/fun/bbinfo.php?page=MindPower

http://www.athletes.com/fun/powerliftingmind.htm

 

Algumas referências sobre “treinamentos mentais”

http://coachsci.sdsu.edu/csa/vol26/table.htm (exelentes artigos do International Journal of Sport Psychology)

http://www.vanderbilt.edu/AnS/psychology/health_psychology/mentalimagery.html

 

 Marilia

BodyStuff

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