Anna Maria, as rosas, a vida

Olhei pela janela e estavam lá: 11 rosas psicodélicas.

Minha roseira psicodélica resolveu entrar numa viagem só dela no meio dessa estiagem de fim de inverno. Elas começam brancas, ficam amarelo ovo, tornam-se lilás e finalmente furta-cor.

Ao sair para o portão, olhei o terreno baldio e o abacateiro, ali nascido sem querer, produto de arremessos de caroço do meu quintal, estava inteirinho coberto de flores e pequenos abacates piriformes.

Que charada esquisita é essa?

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Hoje li o obituário de Anna Maria Koprowski. Morreu a amiga com quem eu só tive comunicação à distância de 2009, quando nos conhecemos, até hoje. Infelizmente, quando combinávamos um encontro, sua saúde piorou e ela mudou-se para o Paraná, onde morava a filha.

Anna Maria é a irmã mais velha de Eugênio Koprowski. Quando os conheci, lembravam o tipo de afinidade que tenho com os meus irmãos. Faziam tudo em parceria e colaboração.

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Anna Maria cuidava da revista, então chamada de Jornal da Musculação e Fitness. Em 2009, ela terminava uma série que havia criado sobre a história dos atletas de força, mais especificamente do fisiculturismo. Foi com ela que compartilhei meu sonho, que jamais será realizado, de ter um centro de História das Artes da Força aqui, nos moldes do que existe no Texas. Ela me incentivou. Não apenas incentivou: foi ela que me enviou o Xerox da Ata da FEPAM onde primeiro se regulamentavam os “Levantamentos Básicos”.

Compartilhamos outras coisas mais sutis, mais misteriosas, coisas que ela sabia mais que eu porque é assim que as coisas funcionam. Não há dúvidas de que era para mim uma referência de mulher forte. Era uma amiga mais sábia, dessas a quem se deve o respeito reverente.

Essas rosas todas, essas flores e estes abacates, se eu fosse poeta ou mística, seriam sinais de alguma mensagem oculta sobre vida e morte. Sei lá que mensagem. Como esses assuntos me escapam por confusão, vejo só minha cabeça triste pela perda, percebendo em volta, com destaque, tudo que meu olho de bióloga interprete como vida furiosamente se mostrando incontrolável. Perda dolorosa, não importa quão esperada fosse.

Vida colorida, obscenamente reprodutiva e luminosa, dezenas de frutos por metro cúbico pendurados como lâmpadas numa árvore de Natal.

Só nascimento, florescimento, nascimento e florescimento num dia em que o foco é uma morte.

Eu só observo e me calo, triste e confusa.

Morte é uma coisa solitária para quem fica.  Se para mim é, nem imagino como está sendo para a família Koprowski, da qual tive o privilégio de ser uma das “adotadas”. Ou imagino, e sinto a dor pela dor deles.

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