Abri a porta, entrei na academia e fui recebida por Seth. Me senti imediatamente em casa. Ele me acompanhou até o escritório de Mário, o proprietário da Atitude academia (www.atitudesp.com.br) e permaneceu por ali, prestativo. Seth é um filhote grande de boxer. Um cão inteligente e amistoso.
Mário me explicou que Seth também trabalha lá: participa de atividades de pet-terapia, por enquanto com crianças.
Falamos sobre muitas coisas, desde as especialidades da Atitude até informação em atividade física e reabilitação. Entendi que a Atitude é uma academia que consegue suprir bem as demandas de públicos especiais, como crianças, lesionados e atletas em preparação. Fiquei muito impressionada com os trabalhos de recuperação com portadores de desordens degenerativas graves, que são o foco dos estudos do Mário. Achei que tudo isso era possível porque se trata de um espaço onde se desenvolve um tipo de atendimento muito personalizado, onde o cliente/paciente/membro se envolve em programas criados de maneira integrada naquela relação com o profissional. É uma academia relativamente pequena e não consigo imaginar um trabalho desses em grande escala. Ele requer o tipo de relação que só pode existir, ou pelo menos eu sinto que só possa existir em pequenas redes.
Mário é especialista em biomecânica e atende gente com diabetes e desordens distróficas numa perspectiva que é uma espécie de horizonte ideal do meu sonho de “desmarginalizar” o treinamento de força e disponibilizar seus benefícios aos pacientes de doenças crônicas.
Fiz então a pergunta que nunca quer calar na minha cabeça: “e desordem mental? Você já pegou?”. Ele me respondeu: “ainda não, mas pensamos em usar o Seth…”.
O que eu responderia naquele momento ficou entalado na garganta. Não deu para falar. Mudei para o que sei e domino: informação científica em atividade física.
Mas o que eu ia falar é que o Mário nem faz idéia de como acertou na mosca. Eu sou uma portadora de uma desordem mental. Sou portadora de uma forma muito grave de desordem bipolar. Ela só não se expressa mais e eu só tenho uma vida funcional porque consegui desenvolver para mim o programa correto de treinamento e nutrição. Pequenas escapadas são riscos grandes, já testei.
Já disse o que penso da psiquiatria e tenho minha guerra santa contra ela e sua mono-mania farmacológica, seu desprezo arrogante e ignorante contra a atividade física e a nutrição e sua prepotência hostil com os pacientes vulneráveis.
Sei do que um paciente desses precisa.
Precisa do Seth.
Precisa treinar num ambiente acolhedor, ser recebido por alguém que lhe abane o toco de rabo, sorria e eventualmente até lhe lamba a mão. Que tenha o pelo quentinho, que se deixe acariciar e assim lhe dê o ânimo que falta para trocar de roupa e puxar ferro numa manhã de desespero e confusão.
Seth, na mitologia Egípcia, foi um cara estranho. Não inteiramente do bem, nem do mal. Reinava no deserto, no lugar dos excluidos.
Me parece uma grande atitude essa, de acolher, com o apoio de Seth, aqueles que vêm do deserto.
Marilia